segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

7 dias pra não ser mais outra

estou a esse tempo de encerrar tudo
estou sem tempo
estou fora do meu tempo
estou a tempo de mudar
estou sendo outra. Agora quero ser eu, mesmo sabendo que eu é ilusão.

pelo menos quero uma ilusão menos ilusória, com mais gosto de verdade.
será que vou conseguir deixar de ser outra coisa que não seja eu?

E os outros?
e as dúvidas eternas?
e as cobranças?
e?

passei um ano sendo algo que julguei necessário para que no futuro eu possa ser melhor
quero virar este ano virando o jogo
sendo algo melhor porque é mais necessário

21/12. Data palíndromo, data limite. Que eu seja, enfim.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

roteiro que eu fiz pra Kika

Outro dia, a Kika Nicolela (http://www.dilemastudio.com/) chegou com um pedido de roteiro, de uma cena, pra um video dela.
Fiquei honrada e feliz, pq ela tá cada vez melhor no trabalho e nossa parceria é uma delícia.
Nem vou falar muito, melhor é ler. Talvez nem fique assim, porque ainda pode mudar. Mas deu vontade de já publicar coisa nova.


DE CHOCOLATE

CENA ÚNICA – INT/DIA – COPA/COZINHA

HOMEM e MULHER estão sentados em uma mesa, sobre a qual há um grande bolo de chocolate, intocado. A mesa está posta, mas eles aparentemente não estão com fome.
De um lado da mesa, também há várias peças, parafusos e ferramentas, do outro, vários frascos de esmalte quase idênticos.
Ela pinta as unhas do pé com esmalte vermelho. Ele conserta um rádio-relógio.
Ficam um tempo em silêncio. Ela cheira o bolo de chocolate.

MULHER
Vai estragar

HOMEM
Acho que já tá estragado

MULHER
Já tem mais de uma semana

HOMEM
Tá estragado, mas tem jeito

MULHER
Quando azeda, já não dá mais.

Ele acha estranho o comentário, mas segue fazendo o que fazia

HOMEM
Estou tentando arrumar.

MULHER
Bom, era seu mesmo...
Ele começa a fazer uma sujeira enquanto conserta, deixa cair tudo na mesa. Ela coloca também o outro pé sobre ela, e começa a olhar para o esmalte nos dedos. Estão aparentemente iguais. Pega dois frascos e compara a cor.

HOMEM
Eu prefiro quente

MULHER
Todos os tons são quentes

HOMEM
O bolo de chocolate

Ele levanta-se, pega um prato, corta um pedaço do bolo e coloca no microondas. Ela pega, com os dedos, um pouco da cobertura e leva à boca.

HOMEM
Ainda tem jeito?

MULHER
Ainda não estragou.

HOMEM
E o gosto, ainda é bom?

MULHER
Eu acho.

Ele vai até ela. Toca seu ombro. Ela pega a mão dele e passa na cobertura do bolo .

HOMEM
Tá suja!

MULHER
Não me incomoda.

HOMEM
Tá fria.

MULHER
Também é bom.

Ele vai em direção à pia e lava as mãos. Ela pega dois frascos de esmalte e vai até perto dele. Coloca os dois frascos contra a luz.

MULHER
Qual você prefere?

HOMEM
Assim não dá pra ver.

Ele volta à mesa, recomeça a consertar o rádio-relógio. Ela vai em direção ao forno de microondas, fica olhando pra ele. O forno reflete a janela e parte do seu rosto. Ela pinta um canto da boca com uma cor, outro canto com outra. Volta à mesa, olhando para o HOMEM.

MULHER
Qual você prefere?

HOMEM
Não faz isso!

MULHER
Te incomoda?

HOMEM
Estraga a pele

MULHER
Te incomoda?

HOMEM
Olha, vai estragar.

Ela retira o bolo do microondas.

MULHER
Não tá estragado.

HOMEM
Passou do ponto.

MULHER
Não me incomoda.

Ela limpa os cantos da boca, parte um pedaço do bolo e come. Ele segue parafusando o rádio.

MULHER
Te incomoda tanto assim?

Ele continua olhando pro rádio, aparentemente concentrado. Ela pega a acetona e começa, violentamente, a tirar o esmalte de um dos pés.

MULHER
Eu não sei por que fazem cores tão parecidas. Deviam fazer só as óbvias: vermelho, azul, verde, chocolate. Mas não. Tem trinta e sete tons de vermelho. E eu fico com essa necessidade dilacerante de decidir entre as trinta e sete coisas praticamente iguais! Praticamente iguais. Praticamente iguais.

Ele levanta os olhos do rádio relógio. Olha pros frascos praticamente iguais sobre a mesa, entre eles, um no tom chocolate.
Ele pega o frasco, vai até ela, pinta uma de suas unhas da mão.

HOMEM
Gostou do chocolate?

MULHER
Passou do ponto. Tá estragado.

Ela joga o bolo no lixo. Ele volta a desparafusar o rádio-relógio. Ela respira fundo, senta-se à mesa, pega um dos frascos vermelhos e começa a pintar as unhas dos pés.
Ficam um tempo em silêncio. Ela cheira o bolo de chocolate.

MULHER
É uma pena. Vai estragar.

A cena segue igual, em looping.

FIM

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

consciência

hoje eStOU aquele escravo que não consegue sair da casa grande por apego ao carrasco.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

descobrimentos

tenho descoberto coisas impensáveis sobre o que sou, e o que pensava ser.
percebi que o que eu achava ser paciência era uma profunda indisposição pra brigas. Preguiça mesmo.
agora, sei lá por que, se pelos acontecimentos, se pela gravidez, se pela lucidez, se pelo espírito santo, se por estar fazendo coisas enormes que exigem disposição pra luta, percebi uma enoooooorme impaciência. intolerância quase. muita raiva tb. nossa.
nenhum problema nisso. aliás, sinto-me livre de uma capa inútil. uma auto-imagem inútil e falsa. A falsa boa.
sei lá quem sou de verdade. mas nada a ver com o que eu era. ou pensava ser.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Se há um momento de instabilidade, é esse.

Acho que nunca passei por tanta coisa junta.

Obra, Marcha Mundial, trabalhos de autoconhecimento, maternidade, gravidez, trabalho, e todas as tensões provenientes de tudo isso. Várias situações me colocando na berlinda, no limite, a maternidade me dando eixo para não sucumbir à auto-piedade. Sim, sempre se pode agüentar mais um pouco.

Tenho tomado contato com sentimentos raros. Muita raiva, por exemplo. Ou talvez ela nunca tenha mostrado seu rosto de forma tão clara. Muita luz também. Muitos presentes da vida, mas nada, nada, sendo fácil. Tudo mais difícil que esperávamos na visão romântica, presentes que jamais esperávamos aparecendo do nada. Um presente, um desafio, um presente, um desafio, uma crise de choro, um dia esplêndido de autoconsciência, outra crise de raiva, um dia de luz. Sinto, sinceramente, que estou perdendo algumas referências do que penso ser, não dá tempo de sentar. Nem de descansar. Nem de voltar a ser o que era. O cansaço é muito, mas as situações exigem atenção constante, intenção constante, cuidado constante, e não param.

Tem sido assim pra mim, pro Dja, pro Pedro (e talvez pro Gabriel)

Ou seja, a gente tem que se amparar, um não consegue se escorar no outro. Não dá pra ninguém ser tadinho.

Tenho me irritado com coisas simples, tenho me emocionado com coisas simples. Hoje, o Pedro tentava cantar a música que ouvia no carro. Foi uma cena tão singela, tão linda, e nada romântica, no meio de tanta fúria, de tanto tsunami, era ali, naquele carro sujo da obra, nesse dia tão peculiar de trânsito horrível, nesse dia em que o Dja matava mais um leão (ou enfrentava suas feras interiores), nesse dia em que eu só queria colo e era colo de três – nesse dia, ele cantando no carro com a língua meio presa, me fez descongelar e perceber a delicadeza que existe em todas as coisas. Estou em contato com sentimentos tão intensos, tão viscerais, que esse momento de pluma pairou no ar por um instante, encheu meu coração de alegria, e no segundo seguinte estava de novo no turbilhão ainda lidando com essa emoção.

Tudo ao mesmo tempo, tudo agora. Nada trágico. Muita consciência de tudo, inclusive das armadilhas, das próprias compulsões, do desejo de fugir desesperadamente pra longe de que nem eu sei. Fico, fico, fico, chacoalho, desreferencio, me permito ser outras, me permito ser raiva, ódio, perdão. Me permito descer, e assim acredito nas luzes. Não são luzes românticas, luzes do “querer-ver”, mas as luzes que brotam da escuridão. Descendo, se sobe de verdade.

As verdades. Viver as verdades, sem maquiagens, sem preconceitos, fazer disso a meta, o propósito. Sentir orgulho pra poder se arrepender. Sentir que se sente sentimentos condenáveis. Querer fazer um muro de fuzilamento e no momento seguinte perceber a criança ferida por trás da metralhadora. Sentir a tristeza da frustração e mesmo assim ter que dar o próximo passo, até saber que essa tristeza é passageira. Sentir, sentir, sentir, errar, pedir desculpas, ver o mecanismo, tentar acertar, ter que ganhar dinheiro, ver o dinheiro ir embora mais rápido que se pode ganhar, daí ganhar um presente da vida, agradecer o presente, perceber um novo desafio, cuidar do filho, esquecer de cortar as unhas dele, esquecer a água no fogo, estar com a casa encaixotada há três meses, amar e ser amada, saber que há alguém do lado dividindo as aflições, dividindo o pior e o melhor de cada um, podendo falar disso sem medo de que o outro vai me abandonar pelo feio que às vezes sou, nem que vou abandonar o outro pelo feio que às vezes vejo, saber que a vida real é essa, valente, profunda, às vezes desmedida, e quando se chega nessa corrente só se pode pedir mais um pouco de ar até que se chegue na margem. E se possa ficar só um pouco, só um pouco, no sol.

Acho que nunca senti uma corrente de vida passando tão intensamente por mim, por dentro de mim, crescendo em mim, transbordando, e com tanta auto-consciência. Nunca passei tanto tempo sem pedir colo de mãe, até porque nesse momento é ela quem também precisa. A cada passo, a cada “não agüento” (como não, se a gente segue?) a cada nova surpresa, novas perplexidades. Cuidando da casa, das crias, do mundo, tentando, nisso tudo, entender de onde venho, tentando, nisso tudo, desacorrentar os personagens internos e conviver com cada um. Perder o medo da escuridão, encarnar de vez. Existir. Estou deixando de ser, ou passando a ser.

Agradeço. E é só.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

caminhando?

voa, cai, levanta, voa, cai, levanta. anda?

domingo, 16 de agosto de 2009

do dia:

descobri: asas artificiais funcionam, mas não me fazem voar.

domingo, 24 de maio de 2009

ele

o carcereiro
ele, na espreita
ele, sorrindo, olhando de lado. esperando o momento certo do bote.
ele, cheio de si e de críticas a mim
ele, vampiro
ele, traiçoeiro, sedutor
ele, jogando pra mim toda culpa do mundo.
ele, me julgando e condenando sempre minha falsa submissão
ele, me impedindo de ser plena e feliz
ele tirando o tapete
ele, cortando meus pés à entrada da morada
ele, jogando fumaça nas minhas certezas
ele, fingindo ser guia
ele, bússola que aponta pro sul.
ele, necessidade infantil de referência externa, ponto de referência de uma luta interminável e desigual.
ele, inimigo sempre evocado e projetado em humanos com rostos similares
ele, por que masculino?
ele, o perigo.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

dos tais editais

Ontem foi meu aniversário. comemorei meus 34 anos pegando assinaturas pra mandar a GIRA prum edital, ProAC.
Meio puta de ser tão workahoolic, mas o lado bom foi ver amigos.
Isso foi bem significativo. Fazer a palavra circular é o que falta no ano que entra.
Universo, posso?

terça-feira, 5 de maio de 2009

blogs

blogar deixa a palavra quente, querendo sair.
a gente não precisa smpre acordar das profundezas.
Do cotidiano, vem o essencial.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

domingo de ouro e rosas

nesse último domingo, passei um dia com o Pedro. Só nós 2.

fomos ao teatro (a primeira pecinha dele), um trabalho muito bacana da Pia Fraus, Bichos do Mundo. Depois, como quem não quer nada e tem muito tempo livre - e nós tínhamos -entramos na Casa das Rosas.


Fazia um final de tarde lindo. Dividimos um pedaço de bolo, e logo ele se meteu na aventura de correr pelos jardins. Descobriu a fonte de água, quis se jogar lá dentro, depois se contentou com os respingos de água na palma da mão. Ignorava as flores e cheirava as folhas, com uma expressão de quem decifrava um odor já oculto para maiores de dois anos. Sorria como nunca, enquanto corria pelo espaço livre, e só atrasava os passinhos para olhar para trás e conferir se eu o estava seguindo - pelo puro prazer de dividir seu prazer de estar ali. Era tanto êxtase que sobrou um pouco para mim. Tomei carona nessa alegria e senti, eu mesma, a força daquele jardim, a sensação mágica e maravilhosa de estar vivendo simplesmente aquele momento: eu e Pedro correndo por baixo das trapadeiras, cercados pelas rosas. Eu, cuidando para que nada sério acontecesse; ele, sem saber, cuidando para que a seriedade saísse de minha alma. Ficamos ali, momentos eternos, o sol dourando as paredes, até que ele mesmo encerrou o passeio indo insistentemente para a calçada, para além daqueles limites. Porque o mundo é muito grande pra ficar só ali, cheirando folhas.


No estacionamento, me beijava e abraçava, transbordando o encantamento do passeio.


E naquela casa, que já abrigou tantas horas de minha vida, que viu nascer e morrer a Cia dos Dramaturgos, que é testemunha dos meus devaneios e cúmplice dos meus íntimos anseios, vivi uma vontade louca de rir e chorar, e mais ainda, de viver.


e aí, dá tempo?

segunda-feira. só a semana que começa, mas o prazo pra muita coisa tá acabando. pra pagar contas, pra fazer projetos, pra resolver pendências chatas que eu adio até o último minuto, entre outras milhares. prazo pra muita coisa se acabando...Isso inclui o mundo, por causa das guerras e da ameaça nuclear, isso inclui as calotas polares, por causa do que todo mundo já sabe, isso inclui minha paciência pra tudo isso, isso inclui...
posso tomar um ar, por favor?





às vezes, dá vontade de fazer que nem o Hero Nakamura, congelar o tempo. Dá vontade de congelar só as ações filhas da puta e poder gozar um pouco e sem pressa as coisas boas - e são tantas! - desse mundo.
isso é culpa? é.
prepotência? é.
criancice? é.
mas eu sinto assim. tem conserto?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

delírio do dia

certas histórias poderiam ser vividas só no meio.
sem início, sem fim
às vezes é bom viver sem prólogo, sem saber de amanhã.
ou até do instante seguinte.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

corrente

Imagine um rio
e, como uma foto, num instante dessa corrente congelada, um rosto.
na linha da eternidade, um eu existente.
uma expressão frágil, como parte de algo na iminência da mudança, de transfiguração em nova forma na água.
existência instável.

Imagine um rio
sem correntes congeladas, mas todos os rostos possíveis passando livres pela correnteza alternando-se, sem medo, no ir e vir da dissolução.

Visto um pouco mais de trás, o rio tem margens firmes,
forma precisa,
e destino certo: o oceano.

quinta-feira, 5 de março de 2009

botero, botticelli e beatrix











o mágico porvir


tanto espero
tanto sonho
tanto no futuro
que agora é difuso
eterno o porvir desejado
eterna a espera do sagrado
eterno casulo
útero-floresta
nascer? me tiraram
ainda preciso aprender a romper o véu:
coragem de viver

fazer, fazer, fazer

muita coisa anda acontecendo.
sempre tenho a sensação estranha que faço muito mais coisas do que aguento e menos do que deveria. Isso é um aforismo muito cansativo, me tira a energia pra fazer outras coisas.
fazer com prazer.

(são 5:52. eu deveria estar dormindo. deveria?)

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

20.01.2009

Hoje acordei de insônia. O Pedro mamou e não dormi. Um bicho, que não o pernilongo, zumbia em minhas orelhas.
No ouvido, na verdade.
Levantei, atizicada. era quase claro, coisa que na roça é bonito de ver, coisa que aqui tanto faz. Mas ainda há silêncio.
Hoje amanheceu com espírito de dia profético. Algo bom.
Hoje tem a posse do Obama, mas não tinha a ver com isso (espero que também tenha, no fim das contas)
É algum gosto de destino descoberto. Uma porta que se abriu na alma (espero que também na matéria, no fim das contas)
No fim das contas
No começo de alguma coisa.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

crianças invisíveis







Acabo de ver o filme Crianças Invisíveis.

Não vou fazer nenhuma crítica. Simplesmente, se você nunca o viu, veja. É arrebatador.

Uma onda de comoção imensa me tomou. Chorei, como há muito não chorava. Não foi por tristeza, mas por conexão. Porque ao ver dramas de tantas crianças pelo mundo afora, dramas ficcionais (reais?), poéticos e nossa... juro que não foi por tristeza. Foi alegria de ter me conectado com minha própria espécie, como há muito tempo não fazia.
Ando falando muito, ando sentindo pouco.
Hoje me dei conta disso, e algo descongelou.
Fica uma gratidão aos atores mirins que tomaram de outros a sua história, ludicamente representada.

Fica a certeza de uma necessidade: Tornar o mundo bonito, acessível, justo. Especialmente, justo.

Renova todas as causas, renova todos os ânimos.

A circulação.

A todas as crianças do mundo: obrigada, obrigada, obrigada. Que vocês sejam testemunhas de um novo tempo.