fomos ao teatro (a primeira pecinha dele), um trabalho muito bacana da Pia Fraus, Bichos do Mundo. Depois, como quem não quer nada e tem muito tempo livre - e nós tínhamos -entramos na Casa das Rosas.
Fazia um final de tarde lindo. Dividimos um pedaço de bolo, e logo ele se meteu na aventura de correr pelos jardins. Descobriu a fonte de água, quis se jogar lá dentro, depois se contentou com os respingos de água na palma da mão. Ignorava as flores e cheirava as folhas, com uma expressão de quem decifrava um odor já oculto para maiores de dois anos. Sorria como nunca, enquanto corria pelo espaço livre, e só atrasava os passinhos para olhar para trás e conferir se eu o estava seguindo - pelo puro prazer de dividir seu prazer de estar ali. Era tanto êxtase que sobrou um pouco para mim. Tomei carona nessa alegria e senti, eu mesma, a força daquele jardim, a sensação mágica e maravilhosa de estar vivendo simplesmente aquele momento: eu e Pedro correndo por baixo das trapadeiras, cercados pelas rosas. Eu, cuidando para que nada sério acontecesse; ele, sem saber, cuidando para que a seriedade saísse de minha alma. Ficamos ali, momentos eternos, o sol dourando as paredes, até que ele mesmo encerrou o passeio indo insistentemente para a calçada, para além daqueles limites. Porque o mundo é muito grande pra ficar só ali, cheirando folhas.
No estacionamento, me beijava e abraçava, transbordando o encantamento do passeio.
E naquela casa, que já abrigou tantas horas de minha vida, que viu nascer e morrer a Cia dos Dramaturgos, que é testemunha dos meus devaneios e cúmplice dos meus íntimos anseios, vivi uma vontade louca de rir e chorar, e mais ainda, de viver.