Ela vende.
Ela mostra
ela tem que agradar.
Ela carrega a alegria do sonho realizado
ela espanta tristezas
abomina tristezas
tem que ser digerível
Ela evita o confronto
Mas não se esquiva do confronto com o outro
que possa lhe roubar a posição
Ela evita a dúvida
a dívida
o fracasso
auto-suficiente, auto-centrada, autonomatizada.
Ela sorri para todos
Ela é linda
ela não erra
Ela tem que vender
Ela não silencia
Ela não descansa
ela fala, fala
mas não troca
Ela patina na solidão de si mesma
para ela, silencio é anonimato
e anonimato é morte certa
vida é fama
ser de todos, menos de si.
os outros são apenas aplausos
palcos
degraus
amigos a favor do pêlo
amigos-platéia-aplausos
Silêncio
Silêncio
Silêncio
De repente, uma fratura
vazou um silêncio
vazou outra possibilidade
vazou o desespero de novos caminhos
o desespero da libertação
vazou um outro pensamento
vazou um desejo até então estranho
de não ser ninguém
além da vontade daquele momento
Vazou um desejo de implodir estruturas
de jogar para o alto o pódium de tantos espetáculos
de tantas vitórias
Vazou, e logo foi tapado
com um novo show
que nunca mais foi o mesmo
a partir daquele dia,
a felicidade gerava dúvidas
o espetáculo gerava dívidas
anos de dívidas de alma.
quarta-feira, 5 de março de 2008
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